Eu ainda posso sentir o teu corpo sobre o meu,essa pele, esse cheiro, tudo impregnado em 
mim, acho que mais em ti, como uma nódoa.
Eu olho para o chão e para o céu, para a 
e para os carros, para a cama e para a 
mesa. Em todos os lugares o teu espectro
me espreita. Ainda hoje acho teus cabelos
em minhas roupas, sua boaca em minha 
boca, seu olharm no meu olhar. E quanto
mais me afasto de ti, mais te encontro.
Acho que estou vivendo em Strawberry 
Fields, na Apoteose da ilusão.
Então me perfumo, mas não adianta, 
porque acabamos cheirando aquilo que 
nos frequenta, no meu caso, você. 
Quando você me tocou pela primeira 
vez, não senti grande coisa, não queria 
sentir, e você, dissimulando, ficou a 
minha frente, deixando que, 
aos poucos, sua sombra 
me fosse devorando.
Tantos momentos marcantes, 
e tão displicentemente. 
Tantas palavras e juras de amor 
infinitamente efêmeras. 
Tantos sentimentos inesquecíveis e 
profundamente sentidos por mim... 
Queria te relegar aos desprezíveis 
pampas das lembranças vãs. 
Mas como? Tua lembrança e 
algo incontrolável, 
e inexplicavelmente nobre. 
Não por você, mas por mim mesma,
pela nobreza do que sinto por ti. 
Só sei que queria te esquecer, 
ao menos por alguns minutos! 
Esquecer da maneira como você me 
chamava de meu amor, esquecer da 
sua risada de criança, esquecer do seu 
olhar sempre perdido no passado, 
esquecer do seu jeito insano 
de me devorar plenamente.
Mas você está ausente. 
Não.! eu estou ausente...! Estou 
ausente de mim, porque neste 
momento, tudo de mim está em 
você! Meu olhar, meu sorriso, 
meu afago, meu pensamento, 
minha alma, tudo está em você, 
como se fosses um demônio e tivesses 
vindo apenas para me dissipar. 
E sinto tanto... Embora ache que as
sensações é que estão me sentindo, 
tamanho o vazio em que estou, o 
grande vazio da sua ausência presente. 
Que Deus me perdoe, mas é como se eu 
fora uma bárbara adorando um deus 
pagão, nas noites claras e nos dias 
cinzas, num black sabbath eterno.
Tudo em mim, agora, é aparência, 
apenas uma carcaça gasta, 
escondendo um resto de alma 
escurecida e gasta. Meus sorrisos, 
meus cumprimentos, minhas falas... 
Tudo um grande teatro de emoções, 
inefáveis pela própria inexistência. 
E, ainda assim, sabendo que estas em
outro mundo, com outros interesses, 
com outras pessoas, te espero! 
Te espero em cada soar da campainha, 
do telefone! Não uma espera ansiosa, 
mas lívida, por saber que nunca 
mais vais aparecer, nem que seja só pra 
devolver a sanidade que me roubaste... 
E, então, apenas sigo, me esforçando 
para não parecer uma estátua de sal, 
procurando conhecer novas pessoas. 
Mas tudo o que consigo é conhecer 
outras estátuas de sal, com certezas
inequívocas sobre coisa nenhuma.
Talvez seja melhor ouvir um blues! 
Só quem já perdeu a alma alguma vez, 
pode sentir e entender o blues! 
Old love, leave me alone! 
Apenas um resto de nuvem, alvíssima, 
passeia pelo meu céu blue. 
Meu sangue é branco, meus olhos são 
brancos, tudo é branco, exatamente 
da cor do meu colo, onde você 
repousava a sua alma 
de guerreiro vencido. 
Momentos... 
Momentos vivos apenas em mim... 
tudo em preto e branco...!
(By Daniele)